LEILÃO DA CARNE NO DOMINGO GORDO
LEILÃO DA CARNE NO DOMINGO GORDO
Mais uma vez se cumpriu a tradição na bela aldeia de Sapiões. Entre as 14h30m e as 16h30m de 15 de Fevereiro, realizou-se nesta aldeia o tradicional leilão da carne em honra do seu Padroeiro Santo Antão, que rendeu 363,50 € e deixou todos os habitantes satisfeitos e orgulhosos pela perfeição como tudo correu. A tarde estava soalheira e esplendorosa. Os raios solares aqueciam o pequeno largo à frente da linda e singela Capela, como a convidar as pessoas para se juntarem e aderirem ao tradicional leilão. É Domingo gordo e manda a tradição, que oito dias antes do Domingo de Carnaval, se faça o leilão da carne em honra do Santo Padroeiro. Apesar de se chamar leilão da carne, também há outras coisas que são leiloadas (batatas, cebolas, feijões, ovos, vinho…). Eu, pessoalmente, acho bem, pois já diz a Sagrada Escritura, que nem só de pão vive o homem. Neste caso, as orelheiras combinam bem com as batatas e os salpicões e linguiças combinam bem com os ovos. O vinho servirá para regar tudo isso e as cebolas entrarão no caldo, para depois compor o estômago. Santo Antão, padroeiro desta aldeia, é venerado como protector dos seus habitantes, mas também como protector dos animais. Daí, as oferendas serem maioritariamente carne de porco, que os habitantes criam em casa, pedindo a protecção do Santo… As pessoas foram-se juntando e trazendo as mais variadas ofertas para serem depois leiloadas. Às 14h30m tocaram o sino da Capela e começou o leilão, orientado pelo habitual leiloeiro (Aníbal Silva) e o seu ajudante (Nélson Silva). Na mesa, para controlar as contas, estava o Damásio. Não posso esquecer a Dona Júlia, a excelente zeladora da Capela, que está sempre presente e ajuda sempre em tudo o que é preciso. Como sempre, o leiloeiro vai brincando com várias situações, divertindo as pessoas e tornando aqueles momentos agradáveis e sem monotonia, num convívio são e feliz, como é da praxe em Sapiões e nas restantes aldeias da Freguesia. Começou a ser leiloado um cabo de cebolas e a voz do leiloeiro fazia-se ouvir alto e forte: - São cinco euros, pessoal! Quem dá mais? Quem dá mais? Há seis euros! Há sete euros! São boas as cebolas! São grandes e não têm grelo! Quem dá mais?.... Dez euros! Há dez euros! Há dez euros, uma! Há dez euros, duas! Quem dá mais? Há dez euros, duas! Há dez euros, duas e meia! Há dez euros, três…! Finalizava assim este lance e o seu ajudante lá ia entregar o cabo das cebolas à pessoa que tinha arrematado e receber a respectiva quantia, que depois entregava na mesa para controlo e registo. Seguiram-se depois feijões, umas queixadas de porco, ovos, batatas, mais cebolas, uns frangos, uns coelhos, uma bola de carne, vinho, etc. A cantoria era sempre a mesma: - Quem dá mais? Quem dá mais? Até que apareceram os salpicões, para me fazer crescer água na boca. E o leiloeiro recomeça: - São dez euros! Quem dá mais? Quinze euros! Vinte euros!? Há vinte euros! Há vinte euros! Quem dá mais? Vinte e dois euros! Vinte e cinco! Há vinte…e seis! Há vinte e oito euros! Quem dá mais!? Trinta euros! Há trinta euros! São bons os salpicões e cheiram bem! Quem dá mais? Trinta e um!? Há trinta e um euros! Há trinta e um euros! Quem dá mais? Há trinta e um, uma! Trinta e um, duas! Trinta e um, duas e meia! Trinta e um, três! Está entregue… E assim foi andando até final, mais ou menos com as mesmas peripécias, mas sempre com boa disposição e alegria que deixou tudo satisfeito… Duma maneira ou de outra, quase todas as pessoas contribuíram para o sucesso deste leilão, que rendeu 363,50€, fora as esmolas, que alguns optam por dar em vez de arrematar alguma das ofertas que foram leiloadas. Esperamos, que nunca deixem morrer esta tradição, que tem raízes populares e contribui para o enriquecimento da nossa cultura. Texto: Eusébio Costa