Toponímia
A toponímia de Sapiões
A pedido do Jorge e por amor às nossas raízes, proponho-me escrever sobre alguns aspectos de matriz etnográfica e histórica. Hoje começo por referir alguns nomes de lugares que têm um elevado valor toponímico. Com efeito, os nomes antigos são essenciais para a interpretação histórica. Eles indicam um caminho e denunciam determinada realidade. Então vejamos alguns topónimos da nossa terra:
- Crasto ou castro, castelo, gramual, souto (ou soito), carral, portela, riango (ou reguengo), carreira, casas, muro, agudeiros (ou aguadeiros), lagoeiro, cabrizes, cabrianças, barrocal (ou barroncal), seara, fulcas e folgueiras, coto, torgal, etc.
Tratam-se de nomes correntes que fazem parte do nosso quotidiano e das anteriores comunidades que nos antecederam. Todas elas dizem algo mais. São relíquias intemporais e retratam aspectos da vida desta terra em pelo menos cinco milénios como é o caso do topónimo "gramual" e até "balboa". Nos dois casos a relação é estabelecida com túmulos megalíticos, muito associados às primeiras formas de sedentarização no nosso território, isto é, quando os nossos antepassados começaram a praticar algumas formas de agricultura.
Assim, o "segundo contributo" versará sobre esta temática. Assim tenha tempo! Um abraço.
Alberto Tapada
A Serra do Alvão, em cuja encosta se enquadra Sapiões é considerada uma das montanhas onde o megalitismo mais se evidencia em Portugal. Na freguesia de Mondrões existiram sepulturas ou mamoas (devido à forma de mama que evidenciam), no lugar das Areias (que muitas vezes associamos erradamente a Arrabães). O Gramual terá sido o local de uma grande mamoa ou o conjunto de várias sepulturas. Habitualmente estas eram alinhadas de nascente a poente, respeitando a ancestral ligação ao movimento solar. Tal como as nossas igrejas!
O topónimo Balboa indicia, a meu ver, uma outra localização destes monumentos funerários. Estes situavam-se em espaços planálticos, o que se enquadra perfeitamente nos contextos desses terrenos. Embora fora da nossa freguesia, o lugar das Muas, a caminho de Lamas de Olo, atesta esta existência alargada de sepulturas, algumas gigantescas. À entrada de Quintã, no vale da Campeã, ainda perdura uma destas mamoas, antas ou madorras, como é habitual chamar-se.
Continuando no tempo, surgiram nos cabeços de meia encosta, modelos de organização de povoados, geralmente ligados à Idade do ferro (3 000 anos antes do nosso tempo), que já dominavam a tecnologia dos metais trazida por povos Celtas que chegaram à nossa região (onde os instrumentos utilizados eram ainda de pedra, de madeira e de osso). Estes povos revolucionaram a tecnologia militar (pela inclusão de armamento moderno e eficaz), os utensílios domésticos, a joalharia, etc.
Estes povoados eram fortificados, com fossos e muralhas, localizavam-se em sítios privilegiados, com boa visão da sua envolvente. Aí habitavam grupos familiares, unidos por uma ancestralidade comum. O nosso crasto ou castro, indicia a localização de um desses povoados, embora até hoje não tenha sido localizado, pese embora um conjunto de outros indicadores que poderão vir a evidenciar outros elementos curiosos.
O mesmo se passa com o "castelo", entre Sapiões e Gulpilhares, onde ainda são evidentes todos os elementos identitários dos povoados castrejos (calçada, fossos, restos de habitações, fragmentos cerâmicos ...), apesar do seu ancestral uso como pedreira, destruindo-se, por isso muitas das suas estruturas.
Mas, se observarmos a paisagem envolvente "até onde os olhos alcançam", poderemos ver castros ou restos deles, em Mondrões, em Agarez (recentemente destruído), em Arnadelo, em Abaças, em S. Tomé do Castelo, na Vila Velha, na margem oposta ao complexo desportivo do Monte da Forca, etc. Refiro estes exemplos para se ter a ideia do elevado número daqueles povoados que acabaram por ser dominados pela ocupação romana que veio impor uma nova ordem, uma nova língua e sobretudo a modernização do território, das vias, pontes, estalagens e a regulamentação do direito, em cujo modelo assenta ainda hoje a relação entre as pessoas e o funcionamento da justiça.
Alberto Tapada.